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quarta-feira, 17 de agosto de 2011

A Mata Atlântica pede socorro







Embora restem apenas 7% da floresta original, a Mata Atlântica, em extensão, equivale aos territórios da França e da Espanha juntos. Em suas imediações vivem hoje 100 milhões de pessoas e circulam 80% do produto interno bruto nacional. Conheça a história dessa floresta, que é considerada a maior fonte de biodiversidade do planeta e os esforços que estão sendo feitos para salvá-la da devastação.

Por Diogo Dreyer










Foto: Gregório Cardoso Tapias Ceccantini
A Mata Atlântica, que originalmente ocupava mais de 1 milhão de Km2, sobrevive hoje em cerca de 100 mil km2.
A Mata Atlântica foi, muito provavelmente, uma das primeiras visões que a tripulação de Cabral teve quando chegou ao Brasil. Nessa época, a exuberância da mata se estendia desde o Rio Grande do Norte até o Rio Grande do Sul e ocupava mais de 1 milhão de quilômetros quadrados.
Os primeiros desbravadores das terras tupiniquins descreveram, durante anos, a Mata Atlântica como uma floresta intocada, de enorme riqueza natural, que levou muitos dos que aqui chegaram no início da colonização a acreditar que o “paraíso na Terra” estava nas Américas.
A floresta era ocupada por grupos indígenas tupis relativamente numerosos, como os tupinambás, que já praticavam a agricultura, mas em perfeito estado de harmonia com a vida vegetal e animal.
Em contrapartida, a relação do colonizador com a floresta e seus recursos foi, desde o início, predatória. Os colonos não percebiam a importância dos benefícios ambientais que a cobertura florestal nativa trazia, além de serem motivados pela valorização da madeira e do lucro fácil. Esses fatores levaram à supressão de enormes áreas da floresta para a expansão de lavouras e assentamentos urbanos e à adoção de práticas de exploração seletiva e exaustiva de espécies como o pau-brasil — o que aconteceu antes mesmo da exploração do ouro e das pedras preciosas.
Para se ter uma idéia, o monopólio da exploração do pau-brasil pela Coroa portuguesa só terminou em 1859, quando essa percebeu que o volume contrabandeado era superior ao das vendas oficiais e surgiram os corantes produzidos a partir do alcatrão mineral. Assim, foram mais de três séculos de extração predatória sem que sequer o processamento da madeira para extração do corante tivesse sido desenvolvido na colônia, agregando algum valor ao produto ou gerando postos de trabalho.
"Terra Brasilis", como ficou conhecida a nova colônia de Portugal, teve a origem de seu nome diretamente ligada à exploração do pau-brasil e, portanto, ao início da destruição da Mata Atlântica. Calcula-se que 70 milhões de árvores foram levadas para a Europa. Atualmente, a espécie vive graças ao trabalho de grupos ambientalistas que fazem seu replantio.
Novo Mundo: sinônimo de riqueza fácil
A exploração predatória da Mata Atlântica não se limitou ao pau-brasil. Outras madeiras de alto valor para a construção naval, edificações, móveis e outros usos — como tapinhoã, canela, canjerana e jacarandá — foram intensamente exploradas. Segundo relatórios da virada do século XIX, em Iguape, cidade do litoral sul do estado de São Paulo, não havia mais dessas árvores num raio de sessenta quilômetros da cidade. O mesmo se repetiu em praticamente toda a faixa de florestas costeiras do Brasil. A maioria das matas consideradas "primárias" e hoje colocadas sob a proteção das unidades de conservação foram desfalcadas já há dois séculos.
Outro grande problema era a retirada de epífitas — vegetais que vivem nas árvores, como bromélias, cactos e orquídeas —, também responsável pela destruição de grandes áreas de florestas, cujas árvores eram simplesmente derrubadas para facilitar a extração dessas plantas.
Além da exploração dos recursos florestais, existia também um significativo comércio exportador de couros e peles de onça (que chegaram ao valor de 6 mil réis, o equivalente ao preço de um boi na época), veado, lontra, cutia, paca, cobra, jacaré, anta e de outros animais; de penas e plumas e de carapaças de tartarugas. Não é à toa que quase todas esses animais estão em processo de extinção.
A esse modelo predatório de exploração dos recursos da flora e da fauna somou-se o sistema de concessão de sesmarias por parte de Portugal, favorecendo a combinação altamente destrutiva da Mata Atlântica. O proprietário recebia gratuitamente uma sesmaria e, após explorar toda a mata e consumir seus recursos, a passava adiante por um valor irrisório, solicitando outra ao governo; ou simplesmente invadia terras públicas. Firmava-se o conceito de que o solo era um recurso descartável, pois não fazia sentido manter uma propriedade e zelar por suas condições naturais e sua fertilidade, já que ela poderia ser substituída por outra sem custo. Destruir, passar a propriedade adiante e receber outra era um excelente negócio.
“Em se plantando, tudo dá”
No mesmo período de extração do pau-brasil, as terras férteis do Nordeste do país e que estavam na Mata Atlântica eram utilizadas para a produção do açúcar. A floresta ia sendo derrubada e, em seu lugar, surgiam imensos canaviais. A madeira ia para fornos a lenha, usados no processo de fabricação de açúcar, além de servir para fazer caixotes para o embarque do produto para a Europa.
Depois do século XVII, a floresta continuou sendo derrubada para outros usos da terra. No século XVIII, a descoberta do ouro em Minas Gerais abriu grandes feridas na Mata, mas foi o Ciclo do Café que mais a devastou. O Ciclo começou a se expandir ainda naquele século e se arrastou até a metade do século XIX, principalmente em São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Paraná.
Resultados catastróficos




Foto: Secretaria de Estado do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos do Paraná
A Jaguatirica está ameaçada de extinção, apesar de ser um dos animais símbolo da Mata Atlântica.
A exploração madeireira da Mata Atlântica teve importância econômica nacional até muito recentemente. Segundo dados do IBGE, em meados de 1970, a Mata Atlântica ainda contribuía com 47% de toda a produção de madeira em tora no país, num total de 15 milhões de metros cúbicos — produção drasticamente reduzida para menos da metade (7,9 milhões) em 1988 devido ao esgotamento dos recursos ocasionado pela exploração não-sustentável.
Atualmente, a Mata Atlântica sobrevive em cerca de 100 mil km2. Seus principais remanescentes concentram-se nos estados das regiões Sul e Sudeste, recobrindo parte da Serra do Mar e da Serra da Mantiqueira, onde o processo de ocupação foi dificultado pelo relevo acidentado e pela pouca infra-estrutura de transporte.
Segundo estudos recentes — realizados pela Fundação SOS Mata Atlântica em parceria com o INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) e o Instituto Socioambiental e publicados em 1998 —, entre os anos de 1990 e 1995, mais de meio milhão de hectares de florestas foram destruídos em nove estados nas regiões Sul, Sudeste e Centro-oeste, que concentram aproximadamente 90% do que resta da Mata Atlântica no país. Uma extensão equivalente a mais de 714 mil campos de futebol foi literalmente eliminada do mapa em apenas cinco anos, a uma velocidade de um campo de futebol derrubado a cada quatro minutos. Essa destruição foi proporcionalmente três vezes maior do que a verificada na Floresta Amazônica no mesmo período.
Se isso continuar a acontecer, em 50 anos, o que sobrou da Mata Atlântica fora dos parques e outras categorias de unidades de conservação ambientais será eliminado completamente. Vale lembrar que esses desmatamentos não estão ocorrendo em regiões distantes e de difícil acesso. Ao contrário, derruba-se impunemente enormes áreas de florestas a poucos quilômetros de cidades como São Paulo, Belo Horizonte e Rio de Janeiro.
Da Mata Atlântica original, sobraram 456 manchas verdes, irregularmente distribuídas pela costa atlântica brasileira. Embora isso represente apenas 7% da floresta original de 100 milhões de hectares praticamente contínuos, ainda é uma vasta área, equivalente aos territórios da França e da Espanha juntos.
Além disso, salvar a Mata Atlântica é uma questão de “sobrevivência econômica”: em suas imediações, vivem hoje cerca de 100 milhões de pessoas e, pela sua delimitação geográfica, circulam 80% do produto interno bruto nacional (PIB).


O que chamamos de Mata Atlântica são, na verdade, várias matas que têm em comum o fato de estarem próximas ao oceano Atlântico e em áreas de campos e mangues. São lugares bastante úmidos, onde chove muito durante todo o ano. Isso garante a permanência constante de rios e riachos e a imensa manutenção da variedade de espécies vegetais e animais, a biodiversidade.
Por causa das condições exclusivas que a floresta proporciona, muitos animais só são encontrados na Mata Atlântica, um refúgio para espécies que, fora dela, já teriam desaparecido.

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